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Mostrando postagens de 2014

A fera na selva, por Henry James

"Não incomodava os outros com excentricidade de obrigá-los a conhecer um homem mal-assombrado, ainda que em certos momentos tivesse a maior tentação de ouvi-los dizer que estavam eles próprios bastante assombrados. Se ficasse tão assombrados quanto ele - que nunca deixara de estar uma hora sequer de sua vida - saberiam o que isso significava. Mesmo assim, não lhe cabia assombrá-los, e ele se limitava a ouvi-los com suficiente civilidade. Esta a razão pela qual tinha tão boas maneiras - embora possivelmente fosse um tanto sem graça; esta razão, acima de tudo, se considerava um homem razoavelmente - e até, quem sabe, extraordinariamente - desprendido num mundo ganancioso."

carta ao meu professor de Jornalismo.

Manoel Às vezes, quando as contas estão todas pagas, e vaga-me espaço mental para divagações, me questiono sobre a crise do Jornalismo. Para além disso, me questiono se é de fato uma. Não me entenda mal, a notícia das 20 demissões na Folha de Londrina será sempre aterrorizante. Porém, do alto do meu segundo ano de academia - e com toda prepotência que só a nossa graduação poderia me oferecer -, não consigo ver isso, as demissões, como sintoma de uma crise do Jornalismo em si, mas sim do atual modelo de gestão de negócios. Parafraseando (porcamente) Peter Burke, percebo que com o advento de cada nova tecnologia, profetiza-se o fim de sua antecessora. E, nomeando o gigante elefante entre nós, a suposta grande culpada da crise do Jornalismo contemporâneo é a internet. Com ela, se viram desestruturados os vigentes sistemas de distribuição de conteúdo. Pouquíssimas pessoas estão dispostas a pagar por um conteúdo que possam acessar gratuitamente. Ponto. O suposto fim de um jornal imp

Você me valida

Você é a única pessoa que me valida, me torna inteiro. Você me transforma em realidade, me faz palpável. Você me dá a segurança, o pé no chão. O porto seguro. Mas não é de um jeito que me causa dependência. Veja bem, meu bem. Você me completa. Com as suas inúmeras falhas, me torna um só. Duas metades de uma alma, chame o que quiser. Me ame. Te amo. Além do fim e dos fins, quero para sempre. E sem explicação. E meu medo inominável que você precise de uma, uma explicação. Você traz em si esse medo, essa necessidade tão humana? Essa que me tira o ar e as palavras? Você é mais do que eu preciso mas meu temor é que eu não seja a metade das suas necessidades. Você clama que eu sou tudo e muito mais mas eu morro – veja bem, morro, todos os dias um pouquinho -  de medo de que eu seja o melhor que você conseguiu. Quando eu sinto – e eu sei -  que você é o melhor que eu posso conseguir. Nessa vida e em outras. Eu reafirmo: você me reafirma. Me torna mais eu, cada dia. Só me entendo e me sint

Indo embora do open bar

Indo embora do open bar e o táxi toca Chico Buarque. E eu? Eu choro. A moça do caixa, já conhecida, pergunta: "É um open bar e você tá indo embora a essa hora? Sóbrio?" "Luto", respondo. "Quem morreu?" "O meu relacionamento." "O de sempre? Ainda?" Não, é um novo. Nasceu e morreu. E eu, que nunca achei que fosse sentir a perda, sinto. Sinto mais o fracasso, isso sim. Tem coisas que nascem para morrer e isso não as invalida, com certeza. Mas dói um pouquinho. Dói a falta. A falta de uma coisa que você nem achava que precisava, mas veio, abriu espaço, foi embora, e deixou o buraco. E me pergunto: os buracos, são preenchidos algum dia? Acho que é uma questão de prisma. Necessito parar de pensar em ti como uma lacuna impreenchível mas uma lasca, uma marca. Escrever é inscrever. Tirar uma lasca da madeira, deixar uma marca, um escrito, um inscrito. Acho que você inscreveu em mim. Obrigado.

Pessoas que sentem muito

Eu sinto muito. Não da maneira que eles sentem muito nos filmes dublados. Eu sinto muito de uma maneira exacerbada de sentir, de experimentar um sentimento. Uma maneira que toma conta de todo o meu ser. Eu sinto os cheiros, as cores, as dores. Eu sinto o vento, e eu sinto o grito. A glória e o sufoco. O desapontamento, e a frustração – esses eu sinto mais ainda. Eu sinto a vergonha e a cobrança como você nunca vai sentir. Eu sinto a alegria, a euforia, e a sensação de que naquele momento, e para sempre, nada de ruim vou sentir. Nunca mais. Eu tenho muita energia mas ela não é sinérgica. Ela sobe para a minha cabeça, tem barreira na garganta e fica presa no torso. E ali explode – ou deveria. Essa energia não me faz mas ativo, mas me paralisa. Faz-me pensar em tudo que eu posso ou poderia fazer se eu tivesse tempo para parar de pensar e fazer. É energia acumulada, rejeitada e empilhada. Não ordenadamente, mas tudo junto, no canto, em cima, e por todos os lados. Lateja. Uma pira d