carta ao meu professor de Jornalismo.

Manoel

Às vezes, quando as contas estão todas pagas, e vaga-me espaço mental para divagações, me questiono sobre a crise do Jornalismo. Para além disso, me questiono se é de fato uma. Não me entenda mal, a notícia das 20 demissões na Folha de Londrina será sempre aterrorizante. Porém, do alto do meu segundo ano de academia - e com toda prepotência que só a nossa graduação poderia me oferecer -, não consigo ver isso, as demissões, como sintoma de uma crise do Jornalismo em si, mas sim do atual modelo de gestão de negócios.

Parafraseando (porcamente) Peter Burke, percebo que com o advento de cada nova tecnologia, profetiza-se o fim de sua antecessora. E, nomeando o gigante elefante entre nós, a suposta grande culpada da crise do Jornalismo contemporâneo é a internet. Com ela, se viram desestruturados os vigentes sistemas de distribuição de conteúdo.

Pouquíssimas pessoas estão dispostas a pagar por um conteúdo que possam acessar gratuitamente. Ponto.

O suposto fim de um jornal impresso me parece, de fato, bastante plausível. O Jornalismo, porém, é mais que um papel - assim como também não era as ondas de rádio. Paira uma certa turbulência no ar sempre do advento de uma nova tecnologia, mas, apesar de confuso, é um período transitório. A tendência é que com o passar do tempo, as outras mídias se adaptem para uma nova demanda. Assim como fez o Impresso na chegada do Rádio; o Rádio com a chegada da TV, etc. Alguns negócios inevitavelmente devem perecer no caminho. Os que pior se adaptarem, com certeza. Uma cruel seleção natural, nos moldes da de Darwin.
Apesar do clima fúnebre, é importante que o jornalista não se deixe morrer junto. O Jornalismo é além dos veículos; é o exercício de conhecimentos e habilidades específicxs. Na maior parte das escolas, classificado como uma ciência social aplicada. As tecnicalidades, apesar de influenciarem, não fazem parte do cerne da profissão.

Outro ponto elementar nessa discussão é o papel social do jornalista. É necessário que encaremos o momento atual, não como se tivéssemos limitado espaço de atuação. O prisma mais construtivo é o de que, pela primeira vez em tempos, temos a oportunidade de decidirmos qual espaço queremos ocupar. Uma mata fechada, apesar de intransponível, tem iguais possibilidades para todos os lados. Talvez este não seja momento de almejar seguir modelos antigos, mas sim de experimentar modelos novos.

O enorme ego do jornalista inevitavelmente será ferido nesta trajetória. Pela primeira vez, sua mediação não é elemento indispensável num processo de comunicação para as massas. E lutar para que volte a ser desta maneira seria uma batalha perdida. O caminho não está na mesquinhez de tentar monopolizar o papel de comunicador - vexando todos os que não possuem formação acadêmica para tanto. Parece-me muito mais ético e salubre uma posição mais generosa. Em vez se portar como o protagonista da história, talvez seja a hora do jornalista sair do palco, e instruir a sociedade para que ela, pela primeira vez, falei por si.

É a hora de deixar que o Jornalismo seja maior que o jornalista.

Att.
Renan Duarte

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